‘Eu sou feliz em casa’ – por Eloa

Eu jé era feliz e não sabia!

Assim como o comércio divulga o Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, o dia da Dona de Casa pode ser um chamariz comercial, afinal, nós somos donas de casa o ano todo, mesmo que em período integral, ou um breve período, ou não efetivamente fazemos as funções mas administramos uma casa, então somos todas Donas de Casa e Donas da Nossa Casa. Quando digo isso, o que me vem a mente é a imagem que alguns fazem em relação a função dona de casa, ou como é ensinado isso.

Da menina criança é cobrado ser uma boa mãe para as suas bonecas, ou organizar os seus brinquedos, e demais atividades domésticas, e para o filho homem fica a brincadeira de provedor do lar, aquele que vai brigar com os mostros, montar coisas, apostar corrida e quando chega em casa, está cansado para fazer algo. Felizmente a mentalidade de muitos pais hoje em dia é de ensinar que os cuidados para conservar uma casa, podem sim ser brincadeira de menina e menino. Não define orientação sexual de ninguém, e na minha opinião agrega muito ao relacionamento social da criança.

Mas deixando o meu ponto de vista de lado, afinal todos os pais sabem o que é melhor para os seus filhos. Penso que recordar as aventuras, desventuras, alegrias e até tristezas desse universo doméstico me fez transportar a uma fase linda da minha vida, a minha infância. Precisamente quando frequentei por alguns anos o Bandeirantes.

Para aqueles que não conhecem a filosofia do bandeirantismo, trata-se de promover através de diversas atividades, a integração de crianças, jovens e adolescentes no seu papel na sociedade, incluindo a conscientização social como um todo. E foi neste período que desenvolvi o meu lado dona de casa. Claro que não tinha idade e nem discernimento para entendê-lo, mas anos mais tarde passei a refletir que naquela fase de Bandeirantes, tive a chance de aprender diversos pratos, afinal nos acampamentos eram os membros quem cozinhava e éramos avaliadas para receber condecorações. Aprendi artesanatos, pois nos festivais e nas festas promovidas pelo grupo, todos os membros faziam os enfeites e arranjos. Como era divertido a reunião em grupo decidindo os temas, as cores, os materiais a serem usados, como era gostoso aprender a usar novos materiais, e assim enriquecendo mais e mais. Foi no Bandeirantes que percebi que a organização nas tarefas era essencial, mesmo que na minha casa fosse bem organizada a rotina, naquele meu espaço, a minha organização pessoal era fundamental para o cumprimento das tarefas. Pode parecer algo puxado e rigoroso, mas não vejo desta forma. Acredito que muitos hoje em dia não conseguem ter uma organização em casa, o que talvez não tenha sido estimulado durante a infância. Cito um exemplo daquele tempo: O meu uniforme era um azul, de tecido em brim, e a meia deveria ser branca 3/4 e sapato preto. Eu tinha plena consciência que deveria ser assim, pois era a regra e minha mãe sempre zelava por esta regra, afinal era somente uma vez por semana que eu frequentava o grupo. Eis que um dia o meu sapato furou e não tinha outro sapato preto, o que me deixava de reserva somente um tennis de escola azul. Naquele momento fiquei apavorada, pensando que não poderia deixar de me apresentar com o uniforme correto. Fui do jeito que podia e me expliquei a coordenadora o ocorrido. Ela foi gentil e não questionou nada, me disse que estava tudo bem eu ir de tênis, mas algo dentro de mim dizia que não era o certo. As regras estavam lá, todas procuravam respeitar e eu precisava me organizar para isso. Na minha pequena idade, eu não tinha meios de entender sobre organização do lar, ou até mesmo de despesas, então eu conversei com a minha mãe sobre “aquela” minha preocupação e ela me tranquilizou dizendo que no final do mês eu poderia ter o sapato preto novamente. Não importava se iria demorar ou não, mas eu teria novamente o meu uniforme completo. Hoje analisando isso, eu observo que o que minha mãe dizia era que após o pagamento do meu pai, poderia comprar um novo sapato, e ela na simplicidade em administrar um lar, já dispunha de todas essas estatísticas financeiras, onde gastar, o que comprar, quando gastar.

E hoje em dia acontece muito comigo e com as minhas filhas, mas com o diferencial que desde uma idade que minha filha pode entender, fui ensinando sobre organizar as despesas, as compras, os gastos, pois tenho a idéia que o que pudermos ensinar, orientar, explicar dentro de casa é sempre válido. Aprender com aqueles em quem confiamos ajuda a extreitar os laços de confiança e cumplicidade. Da minha mãe aprendi o amor incondicional de mãe para filho, mas no grupo de Bandeirantes aprendi que gosto de cuidar de casa, de fazer artesanatos, de criar e ter idéias, e isso foi passando para a escola também, depois na fase adulta para a minha vida no dia a dia, e hoje em dia eu sempre digo que AMO a minha casa, AMO ser dona de casa, mesmo quando trabalhava 10 a 12 horas por dia, ter o prazer de cuidar das mnhas coisas, organizar o meu cantinho, tudo isso é importante e fundamental para mim.

Como o título da homenagem sugere, EU AMO SER DONA de CASA, com todas as letras, com aprendizados, alegrias e tristezas, com receitas queimadas quando aprendemos a cozinhas, ou até com quitutes divinos e elogiados, AMO cuidar do meu jardim, AMO decorar a minha casa, sonhar com coisas novas, aproveitar o que já tenho, AMO ficar perto e acompanhar o desenvolvimento das minhas filhas, AMO tudo deste universo, pois isso foi algo que sempre gostei de ser e não sabia o nome, ou não pensava que fosse conseguir ser, a Dona de Casa, ou a dona da minha Casa.

Não há receitas nem regras em ser dona de casa.Cada uma tem o seu tempo, ou não, cada uma tem seus momentos dona de casa ou não, mas acredito que hoje em dia ser Dona de Casa está além daquela imagem de pessoa perfeita. Somos seres imperfeitos, ninguém nasce uma dona de casa, ninguém nasce cozinhando divinamente ou limpando sem deixar manchas, ou ninguém administra as funções de uma casa entre despesas e compras do dia pra noite.Tudo se aprende, tudo se conquista, e a minha conquista diária é esta, ser uma pessoa melhor a cada dia, em
todos os lados, principalmente como Dona de Casa!

Beijos a todas!

Eloa autora do blog ‘Brasileira sim Senhor!’ – http://brasileirasimsenhor.blogspot.com.br